Em um novo artigo científico, pesquisadores brasileiros e de Israel descrevem novas anomalias, detectadas por ultrassom, em fetos diagnosticados com microcefalia.
Foram avaliadas duas gestantes paraibanas que apresentaram sintomas de zika (como vermelhidão na pele e dor nas articulações). Apesar de o zika não ter sido detectado no sangue das mulheres no momento do exame, a análise do líquido amniótico, que envolve o feto, deu positiva para o vírus.
Entre os achados, no primeiro caso, está um cérebro atrofiado, com calcificações no lobo frontal, no cerebelo e em outras áreas.
No segundo, os hemisférios cerebrais direito e esquerdo eram "notavelmente assimétricos", segundo os autores. Outros achados são a ventriculomegalia, uma cavidade cerebral anormalmente grande, e a ausência ou quase ausência do tálamo e do corpo caloso, responsáveis pela condução da informação no tecido nervoso e pela comunicação entre os hemisférios, respectivamente.
"Apesar dos primeiros casos terem sido identificados em Pernambuco e no Rio grande do Norte, os nossos dois casos foram os primeiros a ter a confirmação de material genético do virus e ter exames ultrassonográficos documentados. As alterações ultrassonográficas observadas nos casos são diferentes das alteraçõoes encontradas em outras infecções como citomegalovirus e rubeola", disse à Folha a especialista em medicina fetal e autora sênior do artigo Adriana Melo.
Avaliando outros seis casos de bebês infectados, os pesquisadores encontraram uma involução do cerebelo (responsável, entre outras coisas, pela coordenação motora e postura) e a presença de calcificações no cérebro (como se fossem cicatrizes provocada pela infecção).
Um dos bebês tinha a doença conhecida como artrogripose –caracterizada por uma contratura das articulações das extremidades, que faz com que as mãos fiquem curvadas em forma de gancho, por exemplo.
"Até a publicação do nosso artigo, não havia na literatura registro de casos similares, caracterizados por microcefalia, hipoplasia [redução] do cerebelo e calcificações no parênquima cerebral. A associação com artrogripose também nunca tinha sido descrita", diz Adriana.
"Até que mais casos sejam diagnosticados e evidências histopatológicas [obtidas avaliando material humano em microscópios] sejam obtidas, a possibilidade de outras etiologias não podem ser descartadas", escrevem os autores.
O estudo abre a discussão de que o zika possa prejudicar outros órgãos além do cérebro, dos olhos e outros órgãos dos sentidos, que dependem do adequado funcionamento de células nervosas. O trabalho saiu na revista "Ultrasound in Obstetrics & Gynecology".
Editoria de Arte/Folhapress | ||