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    Manter tumor sob controle é melhor que matá-lo, diz estudo com roedores

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    24/02/2016 22h28

    O tratamento tradicional do câncer que é feito nos últimos 60 anos pode estar com os dias contados. Essa terapia envolve submeter o paciente à maior dose tolerável de radiação ou quimioterapia com o objetivo de matar o maior número possível de células cancerosas.

    Mas uma alternativa, a chamada terapia adaptativa, baseada nos princípios da evolução biológica, mostrou agora que é possível obter melhores resultados. Ela basicamente usa doses menores e frequentes da droga e, mantendo o tumor sob controle.

    O estudo, feito em camundongos com câncer de mama, foi liderado por Robert Gatenby, do Instituto de Pesquisa e Centro do Câncer H. Lee Moffitt, de Tampa, Flórida (EUA), e está publicado na última edição da revista "Science Translational Medicine".

    QUIMIOTERAPIA EVOLUTIVA

    "Estratégias de tratamento convencional do câncer presumem que o benefício máximo ao paciente é conseguido através de matar o maior número de células de tumor. No entanto, através da eliminação das células sensíveis à terapia, esta estratégia acelera a emergência de células resistentes que proliferam sem oposição por parte de competidores, um fenômeno evolutivo chamado 'liberação competitiva'", escrevem os autores do artigo.

    Isto é, com a quimioterapia tradicional o tumor é quase todo destruído, mas sobraram células resistentes que voltaram a fazê-lo progredir.

    Os pesquisadores então testaram um enfoque distinto. Depois de estabilizar o tumor em um "platô", eles passaram a usar doses menores e mais frequentes da droga quimioterápica. O objetivo era manter uma população estável de células sensíveis à droga, mas que competem com mais eficiência pelo substrato do organismo do que suas rivais resistentes.

    Resistir a drogas significa um toma-lá-dá-cá evolutivo. O clone resistente gasta mais energia para produzir, manter e fazer funcionar as "bombas" nas membranas que eliminam a droga da célula.

    Foram testados dos tipos de câncer de mama nos camundongos, que foram tratados com a droga paclitaxel, que é usada em humanos há cerca de vinte anos.

    Os cientistas usaram a terapia convencional e duas versões da terapia adaptativa -deixando de dar a droga quando o tumor estava estável, ou ajustando a dosagem continuamente em sequência. Esse último enfoque deu os melhores resultados.

    "Entre 60% a 80% dos animais, o contínuo declínio no tamanho do tumor permitiu intervalos tão longos quanto várias semanas em que o tratamento não foi necessário", afirmam Gatenby e colegas.

    "Há coisas curiosas na oncologia. As drogas mudam ao longo tempo. Podem ser melhor toleradas e seu uso pode mudar", diz o oncologista brasileiro Max Mano, médico titular de oncologia no Hospital Sírio-Libanês e professor-assistente da Faculdade de Medicina da USP.

    Ele lembra que no começo do uso da paclitaxel, a dose usada inicialmente no câncer de mama era de 175 miligramas por m2 da paciente (isto é, seu peso e altura), a cada 21 dias. Já na década de 2000 vários estudos mostraram que era melhor usar uma dose menor, de 80 mg/m2, semanalmente. A droga assim administrada era inclusive melhor tolerada.

    "Esse estudos nos EUA contribui para dar explicações para esses fenômenos", diz Mano.

    "Essa nova visão ecológica apoiada por evidência experimental", escreveu Giannoula L. Klement, da Universidade Tufts (Boston), na mesma edição da revista científica, "também explica observações clínicas pouco compreendidas, como a dormência de tumores, ou seus padrões de disseminação".

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