• Equilíbrio e Saúde

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    'Gordinhos olímpicos', apesar de exercício, ainda correm risco de saúde

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    18/08/2016 02h02

    Campeões de força e simpatia, os atletas gordinhos são uma das marcas da Olimpíada do Rio. Mas, por mais que seus feitos sejam notórios, o excesso de peso representa riscos para a saúde, como rupturas de ligamento ou aumento das chances de um infarto.

    Em outras palavras, o fato de ser atleta não anula completamente as desvantagens do excesso de peso. O motivo para o pessimismo está baseado em estatísticas médicas –um indivíduo mais pesado, mesmo que ativo fisicamente, vive menos (na média) do que uma pessoa com índice de massa corpórea (IMC) normal.

    Entre os "fofinhos" desta edição dos Jogos estão o medalhista de bronze Rafael Silva, o Baby, de 29 anos e 170 kg, o halterofilista Fernando Reis (quinto lugar na Rio-2016), de 26 anos e 155 kg, e a goleira angolana de handebol Teresa Almeida, a Bá, de 28 anos e 98 kg.

    Baby rivaliza com o iraniano do levantamento de peso Behdad Salimikordasiabi, 170 kg, e com o romeno e também judoca Daniel Natea, 170 kg, pelo título de mais pesado desta edição dos Jogos.

    "Não podemos falar que esses atletas são doentes, mesmo porque nem os conhecemos", diz Nabil Ghorayeb, médico especialista em cardiologia do esporte. "Mas sabemos que a obesidade por si só favorece ao menos o aparecimento de duas doenças: hipertensão e diabetes."

    "Os problemas geralmente aparecem no médio ou longo prazo. Se todo o peso extra fosse músculo, não teria esse problema, mas a gente sabe que não é o caso", diz o médico.

    A saída para garantir ou controlar as consequências indesejadas do excesso de peso são exames laboratoriais que medem a razão entre a quantidade de colesterol bom e ruim, triglicérides e a glicemia, por exemplo.

    "A gente tem que considerar também que para esses atletas de alto rendimento o esporte por si só não é saudável. Não estou falando só dos pesos-pesados. Ter lesões repetidas ou dor crônica faz parte dessa vida que eles escolheram seguir", diz Thiago Ferreira, médico especializado em nutrologia esportiva e que acompanha o halterofilista Fernando Reis.

    No caso da goleira Bá, provavelmente o excesso de peso não é desejável do ponto de vista da saúde, mas ela, apesar disso, tem um desempenho que a levou ao mais elevado nível de competição. Segundo Heloisa Piccinato, nutricionista e especialista em fisiologia do exercício, é possível ser uma atleta de elite obeso, mas é sempre desejável que a razão entre músculo e gordura aumente.

    No caso de atletas que querem ganhar força, como Ferreira ou Baby, o ideal também é sempre a busca do aumento de massa magra. O problema é quando se quer músculo demais: aí aparece um efeito colateral que é o acúmulo de gordura (que carrega consigo o risco de doenças), explica a nutricionista de Baby e da Confederação Brasileira de Judô Gisele Lemos.

    COMIDA

    Para maximizar o ganho de massa muscular, além de um intenso cronograma de treinos é necessária uma nutrição planejada, explica Gisele. No caso de Baby, que ingere entre 5 e 7 mil Calorias (kcal) diárias, a dieta tem de ser suplementada com doses extras de proteína, por exemplo. "Ninguém tem fome para comer tanto o tempo todo", diz a nutricionista.

    "As pessoas pensam que por competir em uma categoria sem limite de peso os atletas comem o que querem, sem disciplina. Não é verdade. Eles têm uma dieta equilibrada e comem muitas frutas e verduras. Se comessem só chocolate e frituras só haveria acúmulo de gordura, o que não melhora a performance", afirma.

    De acordo com Ferreira e Gisele, tanto Reis quanto Baby não possuem parâmetros bioquímicos alterados ou que indiquem algum problema.

    "O Fernando é jovem, tem 26 anos. Os exames estão ótimos. Se alguma coisa sair do lugar, aí teremos de reavaliar", diz o médico.

    Mas tem um risco que todos os gordinhos correm: o acúmulo de peso, seja por gordura ou músculo, gera sobrecarga no esqueleto, nos tendões e no músculo, o que aumenta a probabilidade de lesões, especialmente em tendões. "Muitas vezes o músculo fica maior e mais forte, mas o tendão não acompanha e continua fraco", explica Ghorayeb.

    Não é incomum que atletas pesados fraturem tornozelos, joelhos, ombro, cotovelos, ou bacia. Isso sem contar que as repetidas lesões podem levar a quadros de dor crônica. "E os atletas continuam os treinos e competições mesmo assim", diz Ferreira.

    De qualquer maneira, lembram os especialistas, existe um efeito protetor causado pelo exercício físico. Então é melhor ser um gordinho ativo do que ficar no sofá vendo TV o dia inteiro.

    Uma das dicas para quem é obeso e quer começar a fazer exercícios é procurar um médico. Geralmente se solicitam um teste ergométrico e outros exames, diz Ghorayeb.

    Para o médico, uma boa opção para iniciantes é a natação, para evitar o impacto nas articulações. "Depois, com o tempo, a pessoa pode fazer caminhada. Se ela quiser algo mais intenso, pode fazer bicicleta ergométrica –com um selim de tamanho adequado, vale lembrar".

    Para quem quer ganhar massa muscular "é necessário suplementar com proteína de boa qualidade, além de consumir carboidratos 'pré-treino' adequados", lembra Heloisa. O problema é quando a pessoa quer ganhar demais: "Se passar da faixa dos 10 a 15 kg de massa muscular, acaba sendo inevitável o acúmulo de gordura", afirma a nutricionista.

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