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    Série 'Unidade Básica' resgata médico focado no paciente, diz Caco Ciocler

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    21/08/2016 02h00

    Divulgação
    Caco Ciocler, o dr. Paulo da série Unidade Básica
    Caco Ciocler, o dr. Paulo da série Unidade Básica

    O ator Caco Ciocler diz que quando foi convidado para a série "Unidade Básica", do canal de TV paga Universal, achou que ela trataria do caos das emergências hospitalares. "É essa imagem que a gente tem da saúde pública." Para ele, a série faz um resgate do médico de família.

    Leia abaixo a entrevista que ele deu à Folha.

    *

    Folha - Já foi atendido no SUS?
    Caco Ciocler - Não, nunca. Há quase 20 anos tenho plano de saúde fornecido pela empresa da qual sou contratado. Mas tenho uma irmã que trabalha numa UBS na zona norte de São Paulo.

    Como foi compor o personagem Dr. Paulo?
    Acompanhei o trabalho de um médico de família dois ou três dias inteiros, vi como ele trabalha e também fiz visitas domiciliares com ele. Fiquei bastante bem impressionado com o trabalho preventivo das UBS, com a organização e com a preocupação desses profissionais com seus pacientes.

    Ficou surpreso em conhecer esse outro lado do SUS?
    Sim, foi uma surpresa total. Quando me convidaram para fazer uma série médica brasileira, achei que fosse tratar do caos, porque no Brasil é essa imagem que a gente tem da saúde pública. As séries médicas que fazem sucesso no mundo todo também são sempre focadas os departamentos de emergências dos hospitais, nos casos mais cabulosos.
    Acho que esse é o grande barato da série, que é a antítese dessas emergências cabulosas.
    Ela discute o enfrentamento de uma questão muito atual na medicina: a médica que acabou de sair da faculdade, que encara o trabalho na UBS como um estágio rápido e que está preocupada em subir na carreira, em resolver casos complicados, versus o dr. Paulo que escolheu estar naquela UBS, que está mais interessado nas pessoas do que na doença. É um cara com uma visão extremamente humanística, que resolve os casos médicos não através da especialidade e dos métodos científicos, mas entendendo que a maioria das doenças é resultado de comportamentos, de vícios e de situações que desequilibram a pessoa.

    Você acha que a série pode ajudar de alguma forma na educação médica e no debate sobre as prioridades em saúde?
    É uma pergunta bem interessante. Durante os ensaios e gravações, fui entendendo que essa é uma discussão bastante acalorada neste momento, não só no Brasil como no mundo. A gente passou por um período em que a medicina foi encarada como uma profissão de especializações e de sucesso profissional. O dr. House criou no imaginário dos estudantes de medicina uma profissão quase de detetive. A medicina parece estar vivendo um momento de retorno a essa medicina preventiva, baseada nos antigos médicos de família. Eu tive um médico de família que me acompanhou na infância toda, que vinha em casa. A série faz um pouco esse resgate, expõe esse debate para a sociedade, tira do circuito médico e o devolve para a sociedade.

    E em um momento que o SUS passa por uma das suas piores crises...
    Sim, é um momento complicado para a saúde pública, em que a gente começa ouvir que, por uma questão econômica, talvez não seja possível [garantir o cuidado integral estabelecido na Constituição), talvez tenha que passar restruturação grande e que isso signifique retrocesso nas conquistas. A repercussão e a expectativa em torno da série tem sido imensa, especialmente na comunidade médica. Nosso ofício de artista deve servir não só para as catarses emocionais do público, mas também para agir efetivamente em compreensões e pensamentos que despertem uma discussão política e ativa da sociedade.

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