• Equilíbrio e Saúde

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    Ausência de mercados perto de casa pode piorar qualidade da dieta

    PHILLIPPE WATANABE
    DE SÃO PAULO

    18/09/2016 02h00

    Avener Prado/Folhapress
    Grande disponibilidade de comida, contudo, não significa uma dieta mais equilibrada
    Grande disponibilidade de comida, contudo, não significa uma dieta mais equilibrada

    Quarenta minutos é o tempo que Milena Meneses, 18, leva para chegar andando até o mercado onde compra alimentos. A outra opção da garota é um pequeno comércio, sem muitas opções, a cinco minutos de sua casa. Lá ela consegue comprar pão, leite e biscoitos. A dificuldade para encontrar alimentos saudáveis é um fator ligado a uma pior saúde.

    No Brasil há, pela última contagem, 393.015 estabelecimentos comerciais ligados à alimentação, seja de bebidas, hortifrutigranjeiros, supermercados ou lojas de conveniência.

    Destes, 36.871 são exclusivamente destinados a bebidas. O número é relativamente próximo ao de mercados de grande porte: 40.399. Já as lojas de conveniência somam 45.985. Os dados de todos os comércios alimentícios do país foram obtidos pela Folha junto ao IBGE. Eles são referentes ao ano de 2014.

    Os números, como se poderia esperar, não são homogêneos no território nacional. São Paulo concentra a maior parte de estabelecimentos, quase 92 mil. Os minimercados predominam, com cerca de 30 mil.

    DESERTOS ALIMENTÍCIOS? - Veja a concentração de estabelecimentos que vendem comida por Estado

    Para Milena, não ter um lugar perto com variedade não é um grande problema. Seu trabalho é próximo a um supermercado, onde acaba fazendo as compras que necessita.

    "Eu compro por semana e atualmente estou morando sozinha. Fica fácil porque é pouca coisa. Eu levo na mochila mesmo e vou andando."

    Milena é de Minas Gerais. O Estado tem aproximadamente 12 mercados ou minimercados a cada 10 mil pessoas. O Rio Grande do Sul possui a maior proporção de estabelecimentos por pessoa. São quase 19 a cada 10 mil pessoas.

    A lanterna fica com o Estado do Rio de Janeiro com cerca de 5 desses comércios para cada 10 mil habitantes.

    Não ter mercados por perto pode dificultar o acesso a frutas e verduras, alimentos costumeiramente associados a dietas equilibradas.

    "Nas regiões mais distantes, nas periferias dos grandes centros, o que vemos é a falta de disponibilidade de alimentos saudáveis", afirma Tânia Rodrigues, nutricionista da RGNutri Consultoria, empresa direcionada à educação alimentar.

    Em estabelecimentos menores, como lojas de conveniência e padarias, predominam produtos industrializados, que duram mais tempo sem estragar nas prateleiras. Desse modo, as chances de prejuízo para o comerciante são menores.

    PESQUISA

    Ter grande disponibilidade de comida, contudo, não necessariamente significa uma dieta melhor.

    Um estudo publicado na revista especializada "Health Affairs" acompanhou, em dois momentos, 2011 e 2014, a evolução alimentar de duas comunidades pobres consideras "desertos de comida": uma que recebeu um supermercado e uma como parte do grupo de controle.

    Ao analisarem o consumo nas residências, os pesquisadores concluíram que, após a chegada do supermercado, a qualidade da dieta das pessoas havia melhorado.

    A parte interessante: ao contrário do que esperavam os pesquisadores, tanto no grupo de controle quanto no grupo de intervenção (associado ao supermercado recém-inaugurado) o consumo de frutas e verduras diminuiu. Em compensação, dados relacionados a outras áreas, como consumo diário de calorias e de açúcares, gorduras e álcool, melhoraram.

    Essas mudanças, segundo os pesquisadores, podem estar associadas a uma maior dificuldade em mudar hábitos alimentares relacionados ao consumo de frutas e verduras. "A democratização desse tipo de informação ainda é pequena", afirma Tânia, que não participou do estudo.

    A pesquisa afirma que a introdução de um supermercado em um deserto de comida realmente pode melhorar a alimentação das pessoas que vivem na região.

    Isso, porém, não possui ligação direta com o uso do novo comércio. Segundo os pesquisadores, é possível que a melhoria na dieta esteja associada às mudanças que o supermercado trouxe ao bairro, como mais satisfação com o local e mais atenção à questão da alimentação saudável.

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