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    Na era da selfie, tem academia que até ajuda aluno a tirar foto perfeita

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    20/09/2016 02h00

    Galvão Bertazzi

    "Se eu não tirar foto do meu treino, é como se eu nem tivesse treinado", diz a administradora Ana Lima, 27, que há 14 meses mantém um diário fotográfico online de suas idas diárias à academia.

    Ela não está só nesse retrato: 4,5 milhões de fotos foram publicadas na rede social de fotos Instagram com a palavra-chave #treino (isso sem contar seus desdobramentos, como #treinohard, com 170 mil menções, e #treinotop, com 125 mil). "É, sem dúvida, um dos temas mais compartilhados e que mais gera interação, como likes e comentários", afirma o analista de mídias sociais Carlos Rodrigo.

    A Folha ouviu dez redes de academia de todo o Brasil, que em sua maioria já se adequam à nova necessidade dos alunos: fazer autorretratos ("Tão vital numa academia como bebedouros", definiu um professor de educação física que pediu anonimato). Leia abaixo causos que envolvem as selfies e os halteres em salões de ginástica brasileiros.

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    RETRATO DE VIOLÊNCIA

    Os músculos cultivados por frequentadores da Bio Ritmo da avenida Paulista quase tiveram de ser usados há algumas semanas: um marombeiro foi pego filmando e fotografando a atividade do vestiário masculino, ignorando avisos da proibição de clicar no local. "O cara foi quase surrado, teve de sair com escolta", diz um advogado que presenciou a cena e pede para não ser identificado. A Bio Ritmo afirma que "orienta os clientes a não utilizar câmera de celular nos vestiários da academia por meio de adesivos informativos". Em caso de infração da regra, a rede aplica advertência ao usuário.

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    MALHANDO O DEDO

    Na Les Cinq Gym, no bairro paulistano dos Jardins, "toda a decoração da academia foi feita para parecer teatral e os alunos serem os artistas", diz o dono, Rodrigo Sangion. Isso inclui espelhos em bronze, para emular um filtro natural de tom sépia, e um telão na sala de musculação, que exibe fotos enviadas por alunos."Todo mundo quer aparecer. Pintava muita foto sem camisa, o que inibia outras pessoas, menos em forma, de mandarem sua foto. Diminuímos essa história." Não há área proibida para selfie no estabelecimento. "Não tem como segurar o aluno", diz Sangion.

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    CORREÇÃO

    A Bodytech colocou seus professores para supervisionarem as selfies. A rede instruiu os profissionais a orientarem alunos prestes a fazer um clique. "Se a gente vê um equipamento sendo usado de uma maneira que não foi concebido, tenta convencer o cara a fazer direito", diz o diretor técnico Eduardo Netto.

    Para Netto, fotos de exercícios muito impressionantes saem pela culatra. "Acabam inibindo as pessoas, porque são exercícios muito difíceis e feitos sem orientação nenhuma. Os seguidores veem uma famosa fazendo e vão atrás, podem se dar mal." Fotos de exercícios sem tênis são desestimuladas nas academias do grupo, e retratos no banheiro são estritamente proibidos.

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    REVOLTA ONLINE

    A Smart Fit teve de lidar com uma pequena insurgência online. Um aluno de Fortaleza leu o contrato que assinara com a rede, uma das maiores do Brasil, e viu uma cláusula que proibia alunos de fazerem fotos lá dentro.

    Foi reclamar nas redes sociais. Obteve apoio em forma de centenas de likes e de comentários indignados ("Quem eles pensam que são?") até que a academia teve de se pronunciar: "Fotos pessoais, sem atrapalhar o fluxo da unidade ou o treino de outros clientes, estão permitidas".

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    DEIXE A SELFIE DE FORA

    A Fit For Free, de Curitiba, proíbe o uso de celular (e consequentemente de fotos feitas com o aparelho) em suas dependências. "A rede prefere não dar margem para demandas judiciais por ferir a privacidade de ninguém", diz o gerente, Marco Machado. "Fomentamos a prática do exercício em prol da saúde e não da estética. Pedimos sempre gentilmente aos nosso alunos que não tirem fotografias pois cada um deve respeitar o espaço e privacidade do próximo." Em caso de desrespeito à regra há punição com suspensão ou banimento definitivo do aluno, o que, segundo a casa, nunca aconteceu.

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