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    ANÁLISE

    Segunda 'mãe' contribuiu com apenas 0,17% dos genes do bebê

    MARCELO LEITE
    DE SÃO PAULO

    27/09/2016 20h58

    Compreende-se a necessidade de resumir uma intervenção biomédica complexa em fórmulas compreensíveis do gênero "primeiro bebê de três pais, como fez a revista britânica "New Scientist". Não é bem isso, porém.

    3 pessoas e um bebê

    A criança teria três progenitores se recebesse genes significativos de todos eles. Com a técnica empregada por John Zhang, a suposta segunda mãe contribui com muito pouco DNA para o bebê, e nada que vá influenciar de modo decisivo o que ele vai se tornar como pessoa.

    A intervenção foi feita para evitar uma doença originária de falhas em mitocôndrias, organelas que produzem energia no citoplasma ("recheio") da célula. O truque é substituir mitocôndrias defeituosas de uma mulher pelas saudáveis de outra.

    Bebê com três progenitores
    Transferência de núcleo entre óvulos permitiu criança nascer sem doença genética

    Mitocôndrias têm seus próprios genes, 37 deles, e é por isso que se fala em duas "mães". A segunda, contudo, entra com o equivalente a 0,17% do total de genes (22 mil) que servem para formatar um organismo humano.

    Além disso, o DNA mitocondrial nada tem a ver com características normalmente associadas com hereditariedade, como temperamento e traços físicos. Os genes que contam para isso ficam longe dela, acomodados nos 46 cromossomos do núcleo.

    Não há novidade no expediente de usar mitocôndrias sãs para viabilizar a gravidez. Tampouco é nova a controvérsia sobre isso. Em abril de 2001 a revista "Science" condenou em editorial procedimento similar feito por Jason Barritt em Nova Jersey (EUA).

    Antes disso, em São Paulo, o polêmico médico Roger Abdelmassih –hoje cumprindo pena por múltiplos estupros – já empregava injeções de citoplasma para "rejuvenescer" óvulos de clientes com dificuldade para engravidar.

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