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    Por saúde e tranquilidade, mais mulheres param de menstruar

    PHILLIPPE WATANABE
    DE SÃO PAULO

    08/11/2016 02h00

    Keiny Andrade/Folhapress
    Jenypher Cavilhoni, 34, está há um ano sem menstruar
    Jenypher Cavilhoni, 34, está há um ano sem menstruar

    Cinco meses menstruada. Foi a gota d'água para Jenypher Cavilhoni, 34, caçar um meio de recuperar o sossego. Com um DIU (dispositivo intrauterino), a esteticista conseguiu acabar com a menstruação. "É outra vida", diz. Seja por causa da saúde ou pelo incômodo, mulheres têm buscado a interrupção, relatam especialistas.

    Os longos períodos de sangramento e os fluxos intensos, além de desconforto, podem provocar quadros de anemia. A interrupção também costuma ser indicada para mulheres com endometriose (quando há tecido da camada interna do útero em outra parte do organismo), problema de saúde que vem se mostrando cada vez mais comum.

    "A suspensão da menstruação pode mudar o curso da doença ou diminuir as sequelas. Nesses casos o médico sugere como uma possibilidade de tratamento. Elas são incentivadas por conta da doença", afirma César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

    A opinião de que há mais mulheres que buscam a interrupção da menstruação é compartilhada pelo ginecologista Marcelo Antonini. "Há alguns anos, era grande o desconhecimento relacionado à suspensão. Hoje, uma mulher vai falando para outra e elas percebem que vale a pena, que compensa."

    Já Isabel Sorpreso, professora da Faculdade de Medicina da USP, diz que apesar de não haver estudos que mostrem essa tendência, é possível que a múltipla jornada (trabalho, casa, vida social) pode ter dado um empurrãozinho para a difusão da suspensão da menstruação.

    "Mas existe outro grupo que acha que menstruar é limpar o organismo", afirma Rodrigo Castro, professor da Unifesp, que prefere não apostar categoricamente no aumento da prática.

    Mulheres com fluxo bastante intenso e/ou duradouro são algumas das que procuram a interrupção. Normalmente, menstruações consideradas normais duram até sete dias.

    "Para ser honesta, eu nunca mais quero menstruar", diz Jenypher, que começou a ter problemas com o ciclo menstrual após ter sua filha.

    A recepcionista Dayane Rodrigues, 21, estava cansada de menstruar. Ela conta que tinha muitas cólicas, "uma TPM infernal" e, às vezes, passava mais de 15 dias sangrando. "Não é porque é natural que é agradável."

    Dayane, apesar de ter ouvido opinião contrária de seu médico, decidiu parar de menstruar e assim permanece há três anos. O método utilizado pela jovem é uma injeção de hormônio.

    Bruno Poletti/Folhapress
    Dayane Rodrigues, 21, estava cansada de menstruar
    Dayane Rodrigues, 21, estava cansada de menstruar

    "O fato de deixar de menstruar não vai trazer nenhum problema de saúde para ela", afirma Fernandes. "É possível que alguns médicos não queiram indicar por não acharem legal, mas isso é só a opinião deles. No quesito de evidência, é muito fraco."

    PÍLULA

    As mulheres de hoje têm um período de vida fértil maior do que antigamente. Isso criou a ideia de que uma maior taxa de problemas de saúde, como a endometriose e câncer de ovário, poderiam ser relacionados ao maior número de menstruações.

    Fernandes afirma que não há como fazer essa correlação de forma segura. Outros fatores, como contaminações alimentares, são especulados.

    O uso estendido de pílulas anticoncepcionais é uma das formas de suspender a menstruação. Costumeiramente, há um intervalo de tempo, nos fins de cartela, em que o medicamento não é tomado.

    O DIU libera continuamente hormônio, o que provoca a atrofia (diminuição da espessura) do endométrio, camada do útero cuja descamação provoca a menstruação.

    Outra possibilidade para escapar dos sangramentos são implantes, geralmente aplicados na região do braço, que liberam hormônios, que chegam à corrente sanguínea.

    Segundo os médicos, todos os métodos para suspensão da menstruação são reversíveis (bastando parar de tomar a pílula ou remover o DIU, por exemplo), mas devem ser discutidos previamente em consulta. Um ponto importante a ser considerado, porém, é que nem sempre a utilização desses métodos, também contraceptivos, impede a menstruação.

    "É muito interessante como os tempos modernos trouxeram um comportamento diferente em relação ao sangue menstrual", afirma a historiadora Mary Del Priore. "Antes, a menstruação era vista como algo mágico, ligado ao poder. Era remédio, veneno e também usado em feitiços."

    Ao mesmo tempo, trazia problemas: durante o período de sangramento, as mulheres normalmente ficavam em uma espécie de isolamento, afastadas da sociedade, afirma Mary. "Agora não é mais a mulher que se isola, é o sangue menstrual", diz.

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