• Equilíbrio e Saúde

    Saturday, 27-Apr-2024 15:27:55 -03

    Mesmo mais velhos, EUA veem demência cair

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    09/12/2016 02h00

    shira gal/Flickr
    Pesquisa foi feita com 21 mil americanos de mais de 65 anos
    Pesquisa foi feita com 21 mil americanos de mais de 65 anos

    O envelhecimento da população dos EUA e de outras nações desenvolvidas criou o receio de um aumento exponencial no número de pessoas com doença de Alzheimer e outras síndromes cognitivas geriátricas, coletivamente chamadas de demências.

    No entanto, um estudo recente apresentou uma conclusão intrigante: a prevalência de demência nos EUA diminuiu de modo significativo entre 2000 e 2012. Extensa pesquisa feita com 21 mil americanos de mais de 65 anos mostrou que a prevalência de demência diminuiu de 11,6% para 8,8% entre 2000 e 2012.

    (Prevalência é a proporção de casos totais da doença em uma população em um dado momento; já a incidência é uma medida da probabilidade de ocorrência da doença em determinado período.)

    Tipos mais comuns de demência

    Parte disso pode ser atribuído à melhora do índice educacional da população do país. A proporção de adultos com 65 anos de idade ou mais com um diploma de escola secundária aumentou de 55% em 1990 para 80% em 2010, enquanto a proporção com um diploma universitário aumentou de 12% para 23%.

    O motivo dessa proteção pode ser tanto a mudança nas conexões nervosas (neuroplasticidade) quanto uma reserva funcional, criada com o tempo dedicado às atividades cognitivas. Não é possível descartar completamente outros benefícios que vêm junto com a educação elevada: mais acesso a serviços de saúde e menor impacto da doença na qualidade de vida.

    Outro achado é particularmente curioso: a obesidade parece estar associada a um risco menor de demência. Os idosos com IMC (índice de massa corporal) acima de 25 tinham redução de aproximadamente 30% na chance de ficar doente.

    O achado é interessante, pois na meia idade a obesidade costuma estar associada com vários riscos à saúde, incluindo a demência.

    Em um comentário que acompanha o estudo, publicado na revista médica "Jama Internal Medicine" pela equipe de Kenneth Langa, da Universidade de Michigan, dois cientistas lembram do chamado "paradoxo da obesidade": o peso mais baixo, normalmente associado à boa saúde, pode, na terceira idade, trazer risco maior de doenças e morte. Em outras palavras, a gordurinha extra acabaria sendo uma espécie de protetora contra as fragilidades da idade.

    Mas a obesidade não necessariamente protege contra a demência. O que acontece, segundo os cientistas, é que a perda de peso precede os problemas cognitivos. A demência pré-clínica, ou seja, ainda sem sintomas, desregula o olfato e o paladar e leva à perda de apetite.

    DEMÊNCIA NO BRASIL

    Não há dados consistentes que mostrem se há a mesma tendência por aqui. Uma revisão sistemática da prevalência de demência no Brasil feita por três pesquisadores da USP mostrou que não há dados confiáveis para a maior parte do país.

    Apenas no Estado de São Paulo houve pesquisas com amostras grandes o suficiente. Mesmo assim, os dados variam muito, com prevalência variando de 5,1% até 17,5%. Com mais dados, a prevalência nos EUA foi de 8,8%.

    O estudo foi publicado na "Revista de Medicina" do Departamento Científico da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

    De 357 artigos avaliados pela equipe de Bottino, apenas oito foram selecionados após a avaliação –seis sobre populações paulistas, um sobre Campo Grande (MS) e outro sobre o Rio. Os cientistas também fizeram um estudo em 2008 com uma amostra de 1.563 pessoas com idades acima de 60 anos na cidade de São Paulo. A prevalência de demência foi de 6,8%.

    Um estudo foi feito no Rio em 2013 com 683 pessoas com idades avançadas –acima de 67 anos e clientes de um mesmo plano de saúde. O índice foi alto: 16,9% de prevalência.

    "A prevalência de demência foi maior do que a encontrada em estudos populacionais. Esses achados apontam para a possibilidade de uma alta demanda de serviços especializados entre os idosos atendidos pelo setor privado de saúde", conclui o estudo.

    A conclusão do comentário que acompanha o estudo americano é que os estudos de lá mostrando a queda na prevalência da demência são animadores.

    O foco agora deveria ser em melhor entender os fatores que estão por trás dessa tendência e traduzir esse conhecimento em intervenções que podem reduzir o risco dessas doenças individualmente e na sociedade como um todo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024