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    Game faz desconhecidos ajudarem no diagnóstico de malária

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    09/01/2017 02h00

    Divulgação
    Os jogadores analisam amostras de sangue em busca de parasitas
    Os jogadores analisam amostras de sangue em busca de parasitas

    Um grupo de cientistas espanhóis quer combater a malária pedindo a desconhecidos que joguem videogame.

    O projeto MalariaSpot está reunindo uma força-tarefa de usuários para diagnosticar as aparições dessa doença, que teve 214 milhões novos casos em 2015, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, e causou 438 mil mortes. O continente africano concentra a maior parte dos casos de malária (88%).

    Na etapa atual do projeto, os jogadores analisam amostras de sangue em busca de parasitas –que aparecem como monstrinhos, quando encontrados. Essas amostras já foram diagnosticadas, portanto o esforço dos usuários não gera dados inéditos.

    Mas os cientistas do MalariaSpot estão compilando essas informações para calibrar o sistema e, no futuro, alimentar o jogo com amostras ainda sem diagnóstico. O processo poderia levar um resultado em 20 minutos a países como Moçambique.

    É uma iniciativa de "crowdsourcing", ou seja, um esforço conjunto realizado on-line. Há outras iniciativas científicas semelhantes, como o GalaxyZoo, em que internautas ajudam astrônomos a identificar galáxias.

    Videogame contra malária

    Outros projetos, como o Folding@Home, pedem ajuda para analisar proteínas e estudar doenças como os males de Alzheimer e Parkinson.

    No MalariaSpot, os jogadores são treinados para analisar amostras de sangue e encontrar os parasitas responsáveis pela malária.

    A tarefa em si é simples. O tutorial, no início do jogo, leva alguns minutos. Mas a massa de informações gerada pelo aplicativo, disponível para smartphones, resolveria um problema fundamental: a carência de especialistas.

    "O segredo é a redundância", diz à Folha Miguel Luengo-Oroz, criador do projeto. "Ainda que alguns jogadores se equivoquem, quando nós combinamos vários usuários sobre a mesma imagem, o resultado é robusto."

    Seguindo instruções, os usuários fazem sua avaliação de acordo com a forma, o tamanho e a cor do parasita. O aplicativo computa todas as análises antes de determinar onde de fato há a doença.

    Luengo-Oroz e sua equipe publicaram recentemente um estudo sobre a viabilidade do jogo, na expectativa de poder oferecer imagens inéditas e pedir que os usuários de fato diagnostiquem casos de malária. O estudo saiu na revista especializada "Journal of Medical Internet Research".

    "Cientificamente, é necessário ter 20 usuários sem experiência jogando com a mesma amostra para que a análise seja como a de um técnico de microscópio", diz.

    INVESTIMENTO

    O "crowdsourcing", utilizado pelo MalariaSpot e pelo GalaxyZoo, tem se consolidado entre cientistas, em especial naqueles casos em que há uma quantidade exorbitante de dados a analisar.

    "Esse é um novo modelo de produção e de resolução de problemas", afirma Luengo-Oroz. "Há tarefas que exigem conhecimentos mínimos, mas em que é necessário um grande investimento de tempo e de pessoas."

    Além da vantagem numérica, ele diz que o "crowdsourcing" se beneficia pelo impacto social. No caso da malária, por exemplo, o esforço conjunto pelo diagnóstico sensibiliza a sociedade a respeito de sua gravidade,

    O futuro desse tipo de esforço seria, portanto, uma mistura do potencial dos usuários e da inteligência artificial, que combina os resultados dos diagnósticos.

    PRÊMIO

    Luengo-Oroz afirma ter escolhido a malária por ser uma doença potencialmente mortal com um alto número de casos, hoje ameaçando em especial as crianças.

    "Há consequências devastadoras", afirma. "É um dos maiores inimigos da saúde mundial, o que nos fez pensar sobre como poderíamos colaborar para diminuir os efeitos de uma das doenças mais mortais do planeta."

    Mas a abordagem de "crowdsourcing" do diagnóstico, testada por sua equipe, poderia ser futuramente utilizada em outras doenças. Até hoje mais de 100 mil pessoas já jogaram o MalariaSpot em cem países. O projeto recebeu recentemente em Bruxelas o prêmio europeu para a Investigação e Inovação Responsável.

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