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    mosquito aedes aegypti

    Estudo mostra vulnerabilidades da placenta ao zika durante gestação

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    15/02/2017 02h00 - Atualizado às 12h15

    Lalo de Almeida/Folhapress
    Placenta é responsável por carregar uma grande variedade de substâncias entre mãe e feto
    Placenta é responsável por carregar uma grande variedade de substâncias entre mãe e feto

    A placenta, órgão que conecta mãe e bebê durante a gravidez, é muito mais vulnerável aos ataques do vírus da zika no começo da gestação, indica um estudo assinado por pesquisadores do Brasil e dos EUA.

    Os dados, se forem confirmados, podem trazer algum alívio às grávidas que vivem nas áreas infestadas pelo transmissor do vírus, o mosquito Aedes aegypti. Análises anteriores haviam sugerido que mesmo uma infecção por zika no final da gestação poderia ser suficiente para causar problemas neurológicos severos nos bebês, como a microcefalia (diminuição significativa do tamanho do cérebro).

    Barreira burlada

    Como a placenta, por meio do cordão umbilical, é responsável por carregar uma grande variedade de substâncias entre o organismo da mãe e o do feto, é natural imaginar que ela funcione como ponte para os vírus presentes no sangue materno que tentam invadir também o bebê.

    "Até agora, ninguém havia mostrado diretamente alguma diferença de sensibilidade ao zika entre a placenta do início da gravidez e placenta madura, do final da gravidez", disse à Folha um dos autores do estudo, Sergio Verjovski-Almeida, da USP e do Instituto Butantan. Em tese, a placenta madura é uma barreira mais eficaz contra invasores, mas seria concebível que o zika fosse capaz de burlar as defesas dela.

    Em pesquisa que acaba de ser publicada na revista científica "PNAS", da Academia de Ciências dos EUA, Verjovski-Almeida e seus colegas simularam em laboratório as duas formas do órgão, cultivando células obtidas de uma placenta dita "a termo" (ou seja, quando o bebê está pronto para nascer) e outras derivadas de células-tronco de embriões. Nesse segundo caso, os pesquisadores induziram as células-tronco a assumir o estado da placenta "primitiva", que começa a ser formada pelo embrião quando ele se aninha no útero materno.

    Depois de cultivar os dois grupos de células, os pesquisadores as expuseram às duas principais formas do vírus zika: a cepa (variante) africana, que é a versão original do parasita; e a cepa asiática, um grupo do qual faz parte o zika que tem circulado no Brasil nos últimos anos. A partir daí, o grupo de cientistas analisou tanto o potencial destrutivo do vírus quanto as possíveis mudanças produzidas por ele no funcionamento das células placentárias, como a ativação de determinados genes.

    Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

    "O meu aluno de doutorado Dinar Yunusov fez essas análises de expressão gênica [ativação de genes]", conta Verjovski-Almeida. Resultado: a placenta "jovem" ou "primitiva" tem mais buracos que um queijo suíço do ponto de vista do vírus. Nela, estão presentes fatores que facilitam a ligação entre o zika e as células humanas, enquanto defesas antivirais importantes ainda não foram ativadas. Exatamente o contrário se dá no caso da placenta madura: as "portas" que poderiam ser usadas pelo vírus aparentam estar fechadas.

    Na prática, isso significa que, enquanto o zika praticamente não consegue invadir as células placentárias maduras, ele parece fazer a festa nas imaturas, em cujo interior novas cópias do vírus com potencial infeccioso foram produzidas com eficiência, inclusive levando as células infectadas a "explodir".

    "Um dado surpreendente levantado pelos nossos colaboradores da Universidade do Missouri foi que a cepa africana do zika infecta a placenta com mais rapidez e eficiência do que a cepa asiática", diz o pesquisador da USP. "A conclusão é que a cepa africana poderia destruir tão eficientemente a placenta em suas fases primitivas que ela nem permitiria a implantação no útero." Isso explicaria por que não há registros de microcefalia ligada ao zika na África: os embriões afetados pelo vírus nunca chegariam nem perto de nascer.

    No caso da forma do vírus que circula no Brasil, os cientistas propõem que o momento de maior risco é o do primeiro trimestre da gravidez, quando a placenta ainda não tem defesas suficientes e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento dos órgãos já está acontecendo. Por outro lado, o último trimestre de gravidez seria consideravelmente menos arriscado, já que a placenta dessa fase corresponde à forma resistente estudada por eles.

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