• Equilíbrio e Saúde

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    operação carne fraca

    Conheça a cadeia produtiva da carne e o que pode dar errado no caminho

    GABRIEL ALVES
    MAGÊ FLORES
    PHILLIPPE WATANABE
    LUCIANO VERONEZI
    DE SÃO PAULO

    25/03/2017 02h02 - Atualizado às 15h20

    Após a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, aumentou a preocupação do brasileiro com relação à carne que chega ao prato. Abaixo, há um passo a passo resumido de quais etapas o boi e a carne passam –do pasto à grelha– e onde podem aparecer os problemas para a saúde animal e humana.

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    NASCIMENTO

    > 'Cria' é o processo de criação de novos bezerros
    > Para crescerem mais, a alimentação é suplementada com minerais e proteína
    > O desmame acontece aos 8 meses de idade. As bezerras viram vacas e vão para a produção de novos bezerros
    > Em algum momento, os animais machos são castrados –e se tornam bois

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    PASTO/CONFINAMENTO

    > 90% da criação no país é em pasto
    > Nesta fase da "adolescência", a ideia é que o bicho ganhe músculo rapidamente
    > Estratégias envolvem melhoria do pasto e suplementação no inverno
    > Soja e milho melhoram a quantidade de gordura na carne, crucial para o sabor
    > Confinamento no fim da engorda ajuda no ganho de peso e na maciez da carne

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    BEM-ESTAR ANIMAL

    > A cultura do bem-estar animal ganhou força na indústria porque o produto final adquiria qualidade; o estresse causa rigidez da carne
    > Agora é mais raro que um boi apanhe ou que tenha mortes dolorosas
    > O animal deve descansar entre a viagem e o abate, em espaço isolado e em jejum, por 24 horas

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    TRANSPORTE

    > Quando os animais são transportados para o abate, alguns podem se machucar
    > A região da lesão torna-se imprópria para consumo e deve ser descartada
    > Não há risco sanitário, mas a experiência sensorial é prejudicada
    > Uma forma de reduzir o prejuízo é premiar caminhoneiros que dirigem bem e usar caminhões adaptados, com acolchoamento, por exemplo

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    ABATE

    > O ideal é que o abate ocorra o mais cedo possível, aumentando a produtividade
    > Após dois anos, o boi ganha peso de forma mais devagar do que antes
    > Nessa fase, o boi tem em torno de 350 kg; comercialmente, costuma-se usar a unidade de peso "arroba", que equivale a 15 kg
    > A carcaça, correspondente aos ossos e músculos do animal, costuma pesar metade do que o bicho pesava quando estava vivo
    > Para o paladar, o ideal é que os animais sejam abatidos ao menos com três anos, quando sua carne ganha um sabor mais acentuado
    > A morte vem após um desmaio obtido com tiro de pistola pneumática, seguido de sangria
    > Em seguida são retiradas as vísceras, evitando que o conteúdo do trato gastrointestinal seja exposto para não contaminar a carne

    Perigo

    > Apesar dos cuidados com o intestino e os quatro estômagos do boi, é possível que bactérias escapem
    > Algumas podem ser patogênicas, mas geralmente o grau de contaminação é pequeno
    > Facas e serras utilizadas devem ser constantemente esterilizadas

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    CORTES

    > O animal é geralmente dividido em hemicarcaças ou em quartos
    > Cortes traseiros (como picanha e filé mignon) são apreciados por sua maciez e quantidade de gordura e são mais caros
    > Cortes dianteiros (como acém e peito) são "menos nobres", apesar de terem mais sabor
    > As partes mais duras podem ser moídas ou requerem um cozimento mais longo
    > A maturação, processo que amacia a carne, deve ser feita por ao menos 24h após o abate

    Perigo

    > Na produção de embutidos, é um mito que haja papelão na mistura. Além de tecnicamente impossível, o erro seria detectado
    > O problema é a entrada de caixas de papelão em ambientes limpos, o que pode trazer contaminantes para o produto cárneo
    > Carne contaminada ou estragada pode gerar efeitos como vômitos, diarreia, dor de cabeça e até a morte

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    APROVEITAMENTO

    > O uso total do animal reduz o número de abates. Os ossos podem ir em preparos de caldos e terrines por causa do colágeno
    > Bochecha e rabo são ingredientes para receitas de longo cozimento. Miúdos compõem embutidos
    > Tendões são fontes de colágeno para produtos de beleza
    > Carcaças inutilizadas e cascos podem ir para a graxaria, seção onde são cozidos em autoclaves e moídos para virar fertilizante

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    EMBALAGEM

    > Normalmente é feita no próprio frigorífico, o que evita mais manuseio (e contaminação) da carcaça do animal
    > A carcaça pode também ser transportada para açougues e supermercados
    > Não é permitido o uso de conservantes para produtos chamados de carne
    > Em produtos cárneos, como o hambúrguer, o uso é regulamentado e há limite

    Perigo

    > Refrigeração inadequada (intermitente, por exemplo) faz carne perder qualidade e estragar mais rápido
    > Caso haja algum problema sanitário, a carne pode adquirir uma quantidade alta de bactérias até mesmo patogênicas como a Salmonella, presente na flora intestinal dos bichos
    > A inspeção dos frigoríficos é feita por veterinários, que atestam sua qualidade

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    GRELHA

    > A carne de bois criados em pasto tem acidez equilibrada e um sabor melhor que aqueles criados confinados
    > O que denuncia a carne estragada é o cheiro forte, já que a cor pode se alterar naturalmente; o produto não deve ter uma camada de "muco" em volta
    > Carne com bactérias Brucella pode transmitir a doença se for mal cozida

    Doenças Bovinos

    Fontes: José Francisco Adrien (Soc. Rural Brasileira); José Cezar Panetta (professor aposentado da FMVZ/USP); Marcus Antonio Zanetti (professor da FZEA/USP); Mario Portella (chef e especialista em carnes e métodos de conservação); Roberto de Oliveira Roca (professor da Fac. Ciências Agronômicas da Unesp); Unicamp; livro Comida & Cozinha (ed. WMF Martins Fontes) e Maurício Palma Nogueira (Agroconsult)

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