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    segurança do trabalhador de saúde

    Currículo de universidade não inclui ensino de noções de segurança

    THAIZA PAULUZE
    DE SÃO PAULO

    16/10/2017 03h31

    Laís Araújo
    Sirleide Lira, Mara Machado, Alcyone Artioli Machado no debate Segurança do Trabalhador de Saúde
    Sirleide Lira, Mara Machado, Alcyone Artioli Machado no debate Segurança do Trabalhador de Saúde

    A enfermeira do Hospital do Trabalhador Fernanda Miranda teve seu primeiro acidente hospitalar quando estagiava em um banco de sangue de Curitiba. Ao virar uma caixa de agulhas dentro de outra, acabou se furando com uma delas, usada por um desconhecido.

    O segundo ocorreu quando lidava com pacientes com suspeitas de serem portadores do HIV e dos vírus das hepatites B e C. O conector de uma bolsa de sangue estourou em seu rosto –ela usava óculos, mas não máscara, ali evitada para não assustar os doadores.

    A enfermeira não chegou a fazer os exames para detectar se havia sido infectada, nem a unidade de saúde e a faculdade pediram. "Só tive uma aula de quatro horas sobre segurança na graduação, nunca me falaram sobre risco biológico."

    A mesma falha é mencionada pelo hoje professor Rafael Pitta, que, aos 18, diz ter saído do curso de enfermagem da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para fazer estágio numa emergência sem saber os perigos a que estava exposto. "Manipulei dispositivos sem ter ideia dos riscos para mim e para os pacientes."

    ACIDENTES DE TRABALHO COM RISCO BIOLÓGICO - Em %

    Pitta afirma que os alunos continuam indo para a prática sem noções básicas. "Após o Programa Nacional de Segurança do Paciente, em 2013, houve estímulo para discutir o assunto, mas não existe ainda disciplina direcionada para isso, e os estudos são poucos."

    Mara Machado, diretora do IQG, acreditadora que certifica a gestão de hospitais, também vê uma evolução nos últimos quatro anos, mas acha que apenas leis não mudam a cultura. Há dificuldade de fazer com que até práticas básicas sejam parte da formação, como lavar a mão, não usar jaleco e estetoscópio na rua ou sair do centro cirúrgico com a roupa ali usada.

    "A segurança é tratada no mundo desde 1996. No Brasil, mesmo após a obrigatoriedade de criar núcleos de segurança em todas as instituições de saúde, só cerca de 1.000 dos 7.000 hospitais cumprem a lei."

    Entre os hospitais universitários, nenhum é acreditado, ou seja, tem o selo de qualidade, segundo ela. "No Canadá é obrigatória a acreditação de centros formadores. Nós estamos na contramão disso."

    Editoria de Arte/Folhapress
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