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    Após críticas, Google Maps desativa contagem de calorias em cupcakes

    DANIEL VICTOR
    DO "NEW YORK TIMES"

    18/10/2017 15h00

    Reprodução Twitter
    Google Maps mostrando distância a partir de calorias e cupcakes
    Google Maps mostrando distância a partir de calorias e cupcakes

    Stephanie Zerwas, diretora clínica do Centro de Excelência para Distúrbios da Alimentação, na Universidade da Carolina do Norte, estava tentando encontrar um restaurante em Orlando, Flórida, no final de semana passado, e por isso digitou o endereço no Google Maps, procurado orientação sobre como chegar lá.

    Ela ficou intrigada ao descobrir um novo recurso: o app do Google Maps para o iPhone a informou de que ela queimaria 70 calorias se fosse a pé até o restaurante, e não de carro. Embora a informação talvez tivesse como objetivo incentivar as pessoas a caminhar, pacientes com distúrbios de alimentação poderiam em lugar disso se fixar no número de calorias, uma atitude perigosa que os conselheiros tentam minimizar, ela disse.

    "Desenvolvemos o hábito de pensar sobre nossos corpos e os alimentos que estamos consumindo e o montante de atividades que temos como se isso fosse uma equação matemática, e não é", ela disse. "Quanto mais tecnologia temos, mais essa visão termina por ser promovida, e mais as pessoas sujeitas a desenvolver distúrbios de alimentação podem ser conduzidas a seguir esse caminho."

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    Na noite desta terça-feira (17), o Google desativou o recurso, que foi definido como uma experiência conduzida no app do Maps para o iOS. A decisão aconteceu depois que o recurso despertou a atenção de muitos comentaristas na mídia social. Algumas das reações entendiam que o Google estivesse interessado em promover os exercícios físicos, mas diversos comentários consideraram o recurso perigoso ou o definiram como insulto.

    Alguns usuários ficaram especialmente irritados porque o app usava mini cupcakes como forma de colocar as calorias queimadas em perspectiva, retratando a comida como recompensa pelo exercício ou o exercício como pré-requisito para a alimentação. (Um mini cupcake, segundo o app, equivale a pouco menos de 125 calorias, mas não havia informações sobre como esse cálculo havia sido realizado.)

    Contar calorias é um assunto contencioso, na confluência entre nutrição, exercício e distúrbios de alimentação. Em Nova York, e em algumas outras cidades, os restaurantes têm a obrigação de postar os totais de calorias de seus pratos, nos cardápios e painéis informativos, uma norma que o governo Trump está tentando reverter.

    A Lei de Acesso à Saúde adotada pelo governo Obama requeria que algumas cadeias nacionais de restaurantes fizessem o mesmo, ainda que a Food and Drug Administration (FDA), a agência norte-americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, tenha postergado diversas vezes a data para adoção da medida.

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    A prática tem por objetivo encorajar os norte-americanos a pensarem mais naquilo que comem, e a limitarem seu consumo de alimentos de alto teor calórico, já que o país enfrenta obesidade generalizada. Um recente estudo publicado pelo "New England Journal of Medicine" constatou que 12,5% das crianças norte-americanas são obesas, ante 5% em 1980. No geral, 26,5% da população dos Estados Unidos é obesa.

    Mas os críticos argumentam que contar calorias é uma estratégia ineficaz para mudar hábitos alimentares. E Claire Mysko, presidente-executiva da Associação Nacional de Distúrbios na Alimentação norte-americana, declarou em entrevista que contar calorias pode "se tornar um ponto obsessivo" para as pessoas com distúrbios de alimentação.

    "Para algumas pessoas, isso não é problema de maneira alguma", ela disse. "mas para quem se concentra demais nos números, ver valores calóricos em todo lugar que se vá pode se tornar opressivo, quando a pessoa está tentando mudar sua relação com a comida".

    Se o Google desejava incentivar as pessoas a andar mais, poderia ter enquadrado a ideia "em termos de força e da sensação boa que isso causa", disse Mysko.

    Porque o Google sabe como é o clima na área em que cada usuário vive, poderia sugerir caminhadas quando os dias estão bonitos.

    "Que caminhar seja encorajado porque é divertido, agradável, ajuda a pensar e a desfrutar dos dias de tempo bom", ela disse.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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