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    História do melhor pastel de São Paulo liga o Japão à zona leste da cidade

    LUIZA FECAROTTA
    DE SÃO PAULO

    29/08/2012 05h22

    Chinroku Kanashiro nasceu em 1910 na província de Okinawa, no Japão, e veio para o Brasil ainda jovem, não se sabe ao certo quando.

    Em 1991, quando morreu, deixou para a família - sete filhos, de dois casamentos - um legado que havia construído com dificuldade: sua receita de pastel de feira, que lhe deu sustento por anos.

    Robson Ventura/Folhapress
    Os vencedores Igor Lavezzo (à esq.) e Roberto Matias
    Os vencedores Igor Lavezzo (à esq.) e Roberto Matias

    Foi com a mesma receita, incrementada com manjericão, que seu neto Igor Keidi Lavezzo - 21 anos depois da sua morte - levou o pastel de feira da família ao posto de melhor de São Paulo, eleito na quarta edição do concurso promovido pela prefeitura, na última segunda.

    Na praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, estava reunido um júri de 20 pessoas, entre elas, chefs como Roberto Ravioli, do Empório Ravioli, e Alberto Landgraf, do Epice, incumbidas de escolher, entre 20 concorrentes, o melhor pastel.

    Depois de abocanhar um tanto de cada pastel (todos de carne), às cegas, em busca de uma massa firme, leve e douradinha, sem desmilinguir, e um recheio de carne úmido e bem temperado, o júri deu o veredito.

    Era o pastel da barraca Kyoto, que levou a pontuação mais alta (8,49). Hoje, a marca está alocada em 19 feiras espalhadas pelas regiões sul, leste e oeste da cidade.

    DE SANTOS À VILA CARRÃO
    A primeira pastelaria de seu Chinroku foi aberta em Santos. Quem conta é sua filha Marina Kanashiro Bagestero, mãe de Igor, 25, que hoje toca o negócio com seu cunhado Roberto Matias, 27.

    Em um momento de aperto financeiro, Chinroku vendeu o salgado até na praia. Foi um dos primeiros feirantes de São Paulo a montar uma barraca do quitute.

    Nelson Antoine/Fotoarena/Folhapress
    Receita de avô nascido em Okinawa virou um bom negócio na Vila Carrão
    Receita de avô nascido em Okinawa virou um bom negócio na Vila Carrão

    Há cerca de meio século, o pastel começava a ser feito na própria feira. O recheio - carne, queijo e palmito - era embalado na massa na barraca, conforme apareciam os clientes. A fritura era auxiliada por dois hashis enormes.

    Fato é que essa história toda perdeu fôlego na mão da segunda geração da família. Foi Igor e seu cunhado Roberto que deram novos rumos ao negócio, depois de voltarem de uma viagem ao Japão.

    Em Kyoto, tocaram por um ano uma pastelaria, que abria sempre no fim do dia e invadia a noite, com clima de bar.

    "Todo mundo diz que o pastel é do Japão, mas eu discordo. Nunca vi pastel lá. É mesmo uma receita brasileira", conta Igor, que morou no país de 2005 a 2009.

    Hoje, sob a batuta da terceira geração da família, os pastéis são feitos de cabo a rabo na casa da matriarca, na Vila Carrão, na zona leste. Na feira, são somente fritos.

    De tanto que o negócio cresceu, a casa ficou pequena para a família e os pastéis. Todos estão de mudança e o local, em breve, vai alojar somente a produção, escoada por quatro Kombis.

    "O segredo está em uma massa macia, dourada e sequinha. E no recheio molhadinho"
    Igor Keidi Lavezzo, dono da barraca Kyoto

    "Pastel é como sexo: se não foi bom na primeira, não adianta"
    Carlos Ribeiro, chef do Na Cozinha

    "É preciso cuidar da fritura da massa para que ela fique dourada e mais seca"
    Henrique Fogaça, chef do restaurante Sal

    "A massa não pode ser muito frita e tem de ser consistente para não quebrar. O recheio, molhado, precisa estar bem distribuído"
    Janaína Rueda, chef do Bar da Dona Onça

    Maria do Carmo/Folhapress
    Confira dicas de como preparar pastel em casa
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    Dicas para fazer pastel em casa

    MASSA
    Recomenda-se comprar a massa pronta; é difícil fazê-la na espessura correta em casa

    ÓLEO
    Precisa estar limpo; não pode ficar escuro nem esfumaçar

    TEMPERATURA
    Para saber se o óleo está quente o bastante para começar a fritura, jogue um fósforo e espere acender

    RECHEIO
    Precisa ser temperado, ficar úmido e bem distribuído

    Fonte: Sônia Regina Alves da Silva, da barraca da Soninha, finalista do concurso

    *

    Onde encontrar o pastel da barraca Kyoto

    TERÇA-FEIRA
    Limoeiro: Av. Manoel dos Santos Braga; Perdizes: r. Monte Alegre, em frente à PUC

    QUARTA-FEIRA
    Ponte Rasa : r. Boaventura R. da Silva; V. Formosa: r. Maragojipe; Mooca: r. Madre de Deus

    QUINTA-FEIRA
    V. California: av. Mata Machado; Belenzinho: r. Irmã Carolina

    SEXTA-FEIRA
    V. Helena: al. dos Anapurus; Jd. Patente: av. Patente; Tatuapé: r. Antonio Camardo; Butantã: r. Pereira do Lago

    SÁBADO
    Pacaembu: pç. Charles Miller; Itaquera: r. Padre Francisco de Toledo; Sto. Amaro: av. Carlos Oberhuber Belenzinho: r. Engenheiro Reinaldo Cajado

    DOMINGO
    V. Bela: r. Dr. Vicente Giacaglini; C. Monções: av. Nova Independência; Tatuapé: R. Tuiuti; Butantã: r. Alberto Tanganelli Neto

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