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    Moda de vinhos para serem tomados com gelo chega ao Brasil; veja opinião

    GUSTAVO SIMON
    DE SÃO PAULO

    19/12/2014 02h00

    Entre os pecadilhos condenados por especialistas em vinhos figura o hábito de resfriar a bebida com pedras de gelo dentro da própria taça.

    Pois é essa a moda que produtores e importadoras querem trazer para o Brasil, inspirados na experiência de verões europeus.

    Lá, a tendência foi, de certa forma, referendada pelo lançamento, no ano passado, do champanhe Moët Ice Impérial –de uma das produtoras mais tradicionais. Como diz o nome, seu consumo é recomendado assim, com gelo.

    Quem quer embarcar na onda precisa saber que há cuidados a serem tomados.

    Apesar de divergências pontuais, sommeliers ouvidos pela Folha são unânimes numa questão: colocar gelo no vinho vai comprometer suas características.

    Em espumantes, o gelo pode alterar o "perlage" (as borbulhas); nos tintos, especialmente os ricos em tanino, as pedrinhas realçam esse aspecto, tornando o vinho rascante; e, no caso de brancos e rosés, os aromas ficam mais tímidos.

    Por isso, drinques como sangria e clericot costumam ser feitos com bebidas mais suaves, sem tantos aromas.

    E os produtores de rótulos como Chandon Passión e Marquis de Rothberg Ice, disponíveis no Brasil neste verão (veja avaliação abaixo), alegam que a receita já prevê essas perdas.

    "Eles têm um pouco mais de açúcar e mais borbulhas que espumantes similares", diz o sommelier Manuel Luz, da importadora Cantu. "E devem ter um serviço rápido; uma taça é bebida em no máximo cinco goles e reposta."

    Sommeliers puristas ainda torcem o nariz: para Daniela Bravin, a onda é, antes de tudo, marketing (leia abaixo).

    Mas outros já admitem a experiência. "Não vejo problemas, desde que você encare a bebida como um drinque, não como vinho", diz a sommelière Gabriela Monteleone, da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers).

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    PROVA DO GELO
    Avaliação feita pela colunista do "Comida" Alexandra Corvo

    CHANDON PASSION
    Aromático, lembra jasmim e ameixa vermelha. Na boca é adocicado, com equilíbrio de acidez e final bem frutado
    Com gelo Nariz e boca se mantêm, não perde intensidade aromática nem fica muito diluído
    Quanto R$ 61
    Onde chandonpassion.com.br, tel. (11) 3062-8388

    MARQUIS DE ROTHBERG ICE
    Perfumado, notas frutadas de pera e pêssego, com notinha mineral tostada. Na boca é adocicado, com espuma fofa, mas falta acidez
    Com gelo O nariz perde muito, e a boca fica muito doce
    Quanto R$ 99
    Onde Cantu, tel. (11) 2144-4455

    ROSÉ PISCINE
    Levemente tostado, pouco perfume. Boca adocicada e cremosa, pouco refrescant
    Com gelo As notas frutadas aparecem um pouco mais. O vinho fica menos doce, um pouco mais refrescante, mas falta frescor
    Quanto R$ 69
    Onde Vinos & Vinos, tel. (11) 3156-8455

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    OUTRAS OPÇÕES
    Confira mais rótulos do tipo à venda no Brasil para este verão

    J.P. CHENET ICE EDITION
    Quanto R$ 65
    Onde La Pastina, tel. 0800-7218881

    MOËT & CHANDON ICE IMPÉRIAL
    Quanto R$ 400
    Onde tel. (11) 3062-8388

    PORTO CROFT PINK
    Quanto R$ 98
    Onde La Pastina, tel. 0800-7218881

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    SOU A FAVOR: NO BRASIL, PÔR GELO NO VINHO É COMO XINGAR O PAPA

    Em qualquer bebida, colocar gelo diminui a temperatura e dilui o sabor. Não precisamos estudar física em Harvard para saber isso. No entanto, tende-se a santificar o vinho.

    No Brasil, falamos "vinho" e temos de construir um altar em volta. Assim, falar em colocar gelo no vinho é como xingar o papa.

    Qualquer pessoa que tenha avô italiano ou português já ouviu falar que, no Velho Mundo, os antigos põem lá um pouquinho de água no seu vinho.

    Qual o problema? Ó, herege, vai diluir os sabores da santa bebida. Ora, qual o problema de um dia eu querer menos intensidade?

    É óbvio que estou falando de vinhos mais simples. Vinhos que não são monumentos da viticultura, mas apenas delícias simples para se tomar no dia a dia.

    As tentativas marqueteiras de se vender vinho para ser consumido com gelo não passam de tentativas marqueteiras. Mas, se você conhece seu vinho e num determinado dia está a fim dele mais fresco e delicado, por que não?

    Isso é muito pessoal, e não há nada demais em fazê-lo. Podemos ser leves (nós e os vinhos). Relaxemos.

    ALEXANDRA CORVO, colunista da Folha

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    SOU CONTRA: ESPUMANTE SEM AROMA E BORBULHA? PREFIRO REFRESCO

    Não costumo me meter no jeito como as pessoas bebem, porque acredito que essa seja uma questão bastante pessoal.

    Mas, pessoal por pessoal, digo que eu não sinto a menor vontade em tomar um espumante com gelo –e explico por quê.

    Em primeiro lugar, a moda me parece ser uma bobagem, apenas uma estratégia de marketing dessas empresas.

    Mas é um tipo de marketing que, no fim das contas, joga contra o produto.

    O gelo, em contato direto com a bebida, a resfria muito. E qualquer vinho demasiadamente gelado me incomoda.

    Isso porque a temperatura baixa demais acaba por "fechar" os aromas, que compõem um dos grandes prazeres –ao menos para mim– nessa experiência.

    No caso específico dos espumantes, o gelo ainda compromete as borbulhas, outra adorável virtude desse tipo de vinho.

    Espumante sem aromas e sem borbulhas? Não, obrigada, prefiro tomar um refresco.

    DANIELA BRAVIN, sommelière e dona do restaurante Bravin

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