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O cantor Frank Sinatra com os cozinheiros do La Cuisine du Soleil, no Maksoud, em 1981 |
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Comida
Friday, 22-Nov-2024 18:52:03 -03Maksoud Plaza ainda está longe do lugar que já ocupou em São Paulo
JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA16/03/2016 02h00
Nos anos 1980, plena madrugada, para onde você iria tomar um último trago se quisesse estar em um ambiente cosmopolita? Você, não sei; mas eu costumava ir para um lobby de hotel: do Maksoud Plaza, inaugurado em 1979, com atendimento 24 horas por dia e uma arquitetura de tirar o fôlego.
Afundado nas poltronas relaxantes, com a última taça de Cognac e um charuto nas mãos, bastava inclinar a cabeça para avistar a gigantesca escultura de Yutaka Toyota pendendo daquele fosso invertido de concreto; as formas de Maria Bonomi entalhadas nas paredes; e imaginar a vertigem dos elevadores panorâmicos –tudo cenário para inovações na gastronomia (e até no show-business) que o hotel trazia para a cidade.
E se você conhecesse alguém da produção musical do hotel, poderia se enturmar à mesa dos jantares tardios dos artistas de fora, que aconteciam ali mesmo no lobby, no restaurante Brasserie Bela Vista, aberto 24 horas. Ou se fosse amigo de amigos de Caetano Veloso, notívago inveterado, engrossaria, no mesmo lugar, a fila de apóstolos da ceia tardia do baiano após seus shows (o único à mesa sempre sem bebida alcoólica, ainda assim sempre com fôlego para pontificar sobre tudo, em geral com teorias tão curiosas quanto originais).
Mas o Maksoud não era só madrugada. E suas noites fizeram mais do que hospedar, no 150 Night Club, apresentações de ícones como Frank Sinatra, Alberta Hunter, Bobby Short, num espaço pequeno o suficiente para que, por exemplo, Buddy Guy pudesse descer do palco e, sem interromper seu solo de guitarra, viesse mexer com a garota a meu lado.
O outro lado do Maksoud era composto de comida e bebida da melhor qualidade. Saindo do lobby, descendo as escadas rolantes, já o final da tarde atraia os bebedores sérios para o classudo Trianon Piano Bar: num espaço pequeno à meia-luz, lembro de ouvir (de preferência acompanhado) o jazz e a bossa-nova interpretados por músicos como os irmãos Peixoto, irmãos de Cauby.
Para beber? Uísques escoceses (não paraguaios) e coquetéis clássicos (do dry martini à indispensável caipirinha) preparados com precisão e elegância por bartenders impolutamente engravatados (como o Rodrigues, cujos gestos, entre sorrisos matreiros de dentes alvos na moldura negra do rosto, não cansei de admirar). O público? Hóspedes que ali mesmo viviam o lado elegante da cidade; empresários que se encontravam para tomar seu scotch; e bem, com o passar do tempo, também clientes mais velhos com jovens acompanhantes de ocasião.
Os coquetéis eram para antes ou depois de comer: e era também no subsolo (para quem entrava pelo lobby) que se comia muito bem.
Dos quatro restaurantes do hotel (como o raro escandinavo Vikings, onde a burguesia paulista aprendeu o que era o smorgasbord, mesa onde brilhavam peixes marinados e defumados), o mais vistoso era o La Cuisine du Soleil.
Vetusto mas confortável, este tinha a consultoria do chef Roger Vergé (1930-2015), que em seu Moulin de Mougins, no sul da França, era um dos ícones da inovadora nouvelle cuisine.
Para o Brasil Vergé enviou o jovem chef Hubert Keller –que pouco depois foi para São Francisco, onde abriria o Fleur de Lys. Para nós brasileiros a nouvelle cuisine, ainda pouco firmada mesmo na França, era assunto do momento; e era com reverência que víamos aquele francês se virando com produtos brasileiros para tentar oferecer pratos franceses mais leves que o habitual.
Peixes com caldos leves e translúcidos, frutas tropicais compondo purês que acompanhavam carnes, legumes cozidos al dente, tudo nos encantava, e valia a economia feita para gastar ali –embora nunca fosse suficiente, no meu caso, para arcar com os vinhos fantásticos que a carta oferecia. Por muito tempo o restaurante virou ponto de encontro das então nascentes confrarias gastronômicas, que ali se reuniam para degustar vinhos com boa companhia no prato.
As lembranças desta época vêm agora à mente quando a atual gestão do hotel empreende mudanças para revitalizar seus serviços.
Verdade que é difícil traçar paralelos entre a leve e luminosa cozinha inspirada por Vergé, num ambiente exclusivo, e o novo e agora único restaurante do hotel –o 150 Maksoud, que funciona escancarado no lobby onde foi o Brasserie Belavista.
E o que dizer do novo bar do Maksoud –o Frank? Também funcionando no lobby, ele parece não ter relação alguma com o passado, se considerarmos a indumentária (tatuagens inclusive) da atual equipe, e o amontoado jovial de clientes dispostos a esperar por horas para sentar. Mas como testemunha etílica dos dois momentos, posso atestar que há também muito em comum: com receitas criativas e serviço diferente supervisionado pelo talentoso barman Spencer Jr., o Frank leva a bebida tão a sério quanto o velho Trianon.
O Maksoud tenta, positivamente, reocupar um lugar que já teve na cidade. Para isso renova seu repertório, que vinha em vertical decadência. Não chega perto dos tempos áureos; mas ao mesmo tempo investe numa pegada mais jovem e descontraída. Mesmo um velho frequentador torcerá a favor de uma virada que entrega à cidade novas opções de gastronomia e lazer.
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O QUE TEM LÁ
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No 22º andar do edifício, a casa noturna de Facundo Guerra, aberta em janeiro de 2015, prioriza a música eletrônica e tem vista ampla para a cidadeFRANK BAR
O pequenino bar no lobby, comandado por Spencer Amereno Jr., tem drinques elaborados com esmero, clássicos e autorais, com ingredientes produzidos na casa-
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