Um ditado popular afirma que "a morte não tem hora marcada", mas pesquisas indicam que ao menos o infarto --uma das principais causas de morte no Brasil-- tem dia e hora. Boa parte deles ocorre às 9h de segunda-feira.
O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (313 km de SP) analisou as 173.982 mil internações motivadas por distúrbios cardiovasculares em 37 hospitais da região, de 1987 a 1996. Dessas, 5.804 foram casos de infarto, dos quais 981 (16,9%) ocorreram numa segunda-feira. Se o número de casos fosse distribuído igualmente pelos sete dias da semana, em cada um ocorreriam 14% dos infartos. Segunda-feira também foi o dia que registrou o maior número de internações por doenças cardiovasculares, com 19,3% dos casos.
"O infarto é mais comum às segundas-feiras devido ao estresse produzido pela mudança do ritmo: a pessoa passa o final de semana relaxada, divertindo-se e longe das preocupações e, na segunda, tem de enfrentar todos os problemas do dia-a-dia de novo", explica o médico Juan Stuardo Yazlle Rocha, chefe do departamento de medicina social do Hospital das Clínicas e autor dessa pesquisa.
Ele ressalta que a maioria dos casos estudados se refere a pacientes que desempenham trabalhos manuais e não intelectuais. Segundo o médico, não existem estudos no Brasil que relacionem a profissão ao dia da semana em que ocorreu o infarto, mas estudos europeus indicam que, ao contrário dos trabalhadores manuais, executivos têm maior chance de serem vítimas de infarto às sextas-feiras, após uma seqüência de dias de trabalho e estresse.
"Como se prevenir? A melhor coisa é escolher uma profissão de que a pessoa goste, que seja um prazer e não um sacrifício", diz o médico.
Outras pesquisas, feitas em diversos países, indicam que a manhã é o período do dia em que o infarto é mais comum. Estudos indicam que o período entre 3h e 11h concentra as ocorrências, e o horário mais crítico é 9h.
"O problema é a hora de acordar. O corpo se prepara para esse momento acelerando o metabolismo e, por isso, aumenta a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a ação plaquetária, por exemplo", diz o cardiologista Otávio Coelho, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Em todos os casos, as vítimas de infarto geralmente têm fatores predisponentes, como hipertensão, colesterol alto, sedentarismo, consumo freqüente de cigarro ou de bebidas alcóolicas.
É o caso do analista de sistema Roberto Carlos de Oliveira Araújo, 39 anos, que enfartou aos 37, numa terça-feira. "Fumava dois maços de cigarro por dia, não fazia dietas nem exames." Hoje ele faz dieta e exercícios, toma remédios e vai ao médico regularmente.