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    Pulmão artificial faz função de órgão doente

    CLÁUDIA COLLUCCI
    da Folha de S.Paulo

    09/11/2009 07h33

    Em um período de quatro horas, o estudante Felipe Guedes Fogaça, 18, evoluiu de uma forte gripe a uma quase morte. Nem o respirador artificial foi o bastante para conter a grave insuficiência respiratória que o atingiu. A solução foi conectar seu corpo a uma espécie de pulmão artificial, que passou a exercer as funções do órgão, então tomado pela infecção.

    Felipe já não corre mais risco de morte e deve ter alta até o final desta semana. A suspeita é que ele tenha contraído a gripe suína --o rapaz teve todos os sintomas da doença, mas o resultado do exame foi inconclusivo para o vírus A (H1N1).

    É a primeira vez no país que um paciente com esse quadro é tratado com sucesso usando o pulmão artificial ou a Ecmo (oxigenação extracorpórea por membrana), nome oficial da técnica. No mundo, há relatos de sucesso na Austrália e na Nova Zelândia, por exemplo.

    Editoria de Arte/Folha Imagem

    O drama de Felipe começou na manhã do último dia 29, quando ele chegou ao pronto-socorro do Hospital São Luiz, em São Paulo. Queixava-se de dores musculares, tosse, febre e dor de garganta. Na hora do almoço, já não respirava. Foi entubado ainda no PS e, em seguida, encaminhado à UTI.

    "Todos os parâmetros respiratórios só pioravam e o ventilador [respirador artificial] já não dava mais. A oxigenação do sangue não era suficiente para manter as funções vitais. Ele estava morrendo", lembra a médica intensivista Laís Braun Ferreira, responsável pela UTI.

    Nesses casos, o pulmão está tão inflamado que não consegue mais fazer a troca de oxigênio para as células. A última alternativa de tratamento foi usar o pulmão artificial.

    "A função dele é oxigenar o sangue e retirar o gás carbônico para o paciente ter mais tempo para se recuperar. A doença é tão agressiva que, mesmo com todo tratamento disponível, o pulmão entra em colapso", explica o cirurgião cardíaco Rafael Otto Schneidewind, responsável pela cirurgia.

    A máquina extracorpórea é muito usada em cirurgias cardíacas em que o coração e os pulmões são "desligados" durante o procedimento. O aparelho cumpre, por algumas horas, as funções cardíacas e pulmonares do paciente.

    No caso de Felipe, o aparelho substituiu a função do pulmão por quatro dias. "É um processo mais sofisticado [do que a cirurgia cardíaca] porque todos os órgãos estão em funcionamento. Você tem que manter a pressão arterial, o cérebro tem que estar protegido, o rim e o fígado não podem parar. É preciso que toda a equipe tenha uma sintonia fina para conseguir ter sucesso", afirma o cirurgião.

    Segundo ele, outros hospitais brasileiros já haviam tentado esse tratamento para casos semelhantes ao do estudante, mas não tiveram sucesso.

    No mês passado, foi publicado um estudo no "Jama" (jornal da Associação Médica Americana) relatando a experiência da utilização do Ecmo em pacientes com vírus A (H1N1) que desenvolveram insuficiência respiratória severa. Do total de 68 doentes tratados, 79% conseguiram sobreviver.

    O médico Andrew Davies, um dos autores do estudo, disse que a publicação da pesquisa deve facilitar o trabalho das equipes médicas no manejo de pacientes muito graves durante a pandemia de gripe suína.

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