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    Teste mostra que pão integral tem mais farinha branca do que não refinada

    JULIANA VINES
    DE SÃO PAULO
    CAROLINA DE ANDRADE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/11/2012 05h10

    O pão integral industrializado não é tão integral assim, mostra análise da Proteste (órgão de defesa do consumidor). Quatro entre sete marcas testadas têm mais farinha tradicional do que a não refinada na composição.

    A análise mediu a quantidade de fibras dos produtos (todos tinham mais do que o indicado no rótulo) e avaliou a lista de ingredientes da embalagem que, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, devem ser organizados em ordem decrescente de quantidade.

    "Em quatro marcas, o primeiro item da lista é a farinha refinada. Não é o que se espera de um pão integral", diz Manuela Dias, nutricionista e pesquisadora da Proteste.

    O resultado evidencia a falta de regulamentação do setor e levanta a questão: quanto de grãos não processados um alimento precisa ter para ser vendido como "integral"?

    As normas brasileiras ignoram o tema. "Faltam parâmetros. O consumidor não sabe o que compra", critica Dias.

    Outros países têm normas específicas sobre isso. Nos EUA, o pão integral de trigo só pode levar esse nome se for produzido apenas com farinha integral. Na Holanda, apenas pães feitos com 100% de grãos não processados ganham o rótulo de integrais.

    A nutricionista Tatiana Barão diz que um produto rico em farinha branca não oferece os benefícios daquele feito principalmente com trigo não processado.

    Em geral, pães integrais industrializados usam entre 40% e 70% de trigo não refinado, segundo a nutricionista Raquel Pimentel. A farinha branca é adicionada para prolongar a data de validade e melhorar a aparência.

    "O pão 100% integral é mais duro e quebradiço e pode ter sabor forte", diz Barão.

    O trigo não refinado preserva parte da casca do cereal, além do gérmen. É onde estão os principais nutrientes, lembra Pimentel. "Vitamina E, B12 e minerais", lista.

    O pão integral tem mais fibras que o outro, o que ajuda no funcionamento do intestino, prolonga a sensação de saciedade (as fibras são digeridas devagar) e ajuda a manter estáveis os níveis de glicemia no sangue. "O pão branco é rico em amido, que é absorvido rapidamente e resulta em picos glicêmicos, o que pode levar ao diabetes", diz Lara Natacci, nutricionista.

    Para as especialistas, não há problemas no fato de os pães testados terem mais fibras do que o indicado no rótulo. "O medo é que o rótulo esteja errado também nas quantidades de sódio e de gordura", afirma Pimentel.

    Editoria de Arte/Folhapress

    OUTRO LADO

    Em nota, a Wickbold disse que não divulga dados sobre a proporção de ingredientes utilizados em seus produtos. Além disso, afirma que os pães da marca que levam o nome "integral" utilizam fibra de trigo ou fibra de trigo com outros cereais integrais na sua formulação, seguindo a legislação brasileira.

    A fabricante informa que realiza análises laboratoriais anuais do produto analizado pela Proteste e que os resultados são diferentes dos apresentados pela organização.

    "Conforme análises laboratoriais, o peso máximo [de fibras] detectado em 50 gramas do produto desde 2001 foi 3,8, e não 4,7, como indicado no resultado da Proteste. É uma variação inferior aos 20% determinados pela legislação brasileira, dado que comprova que o pão está de acordo com as normas estabelecidas."

    Representantes da Líder Minas, fabricante do pão Milani, informaram que a empresa utiliza entre 23% e 25% de farinha integral no produto avaliado pela Proteste.

    A Bimbo do Brasil, que detém as marcas Firenze, Plus Vita e Nutrella, informou em nota que segue as regras para produtos integrais da organização internacional Whole Grains Council.

    Procurada pela Folha, a Bread Life não respondeu. Os representantes da GrãoLev não foram encontrados.

    A Vigilância Sanitária informou que pretende rever a regulamentação dos produtos integrais, mas o tema não está na agenda deste ano.

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