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    Há 50 anos, pioneiro da vacina inventava a vacina contra caxumba

    RICHARD CONNIFF
    DO "NEW YORK TIMES"

    20/05/2013 02h00

    Doenças que foram riscos rotineiros na infância de muitos americanos ainda vivos parecem hoje coisas da história antiga. Em grande medida, devemos o nosso bem estar e, em muitos casos, as nossas vidas a um homem e a fatos que aconteceram há 50 anos.

    À 1h de 21 de março de 1963, um modesto cientista da Merck chamado Maurice Hilleman -um homem intenso e irascível- dormia na sua casa, num subúrbio da Filadélfia, quando sua filha de cinco anos, Jeryl Lynn, o despertou com dor de garganta. Hilleman apalpou a lateral do seu rosto e então notou um inchaço sob a mandíbula, indicador da caxumba.

    Para a maioria das crianças, a caxumba não passava de um doloroso inchaço das glândulas salivares. Mas Hilleman sabia que ela às vezes causava surdez e outras sequelas.

    Rapidamente, ele raspou o fundo da garganta de Jeryl Lynn e levou a amostra para o seu laboratório.

    Hoje, 95% das crianças recebem a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) inventada por Hilleman, a começar pela cepa de caxumba que ele colheu naquela noite. A vacina também é muito usada em outros países.

    Quando Hilleman morreu, em 2005, outros pesquisadores lhe deram crédito por ele ter salvado mais vidas do que qualquer outro cientista do século 20. Ele concebeu ou melhorou significativamente mais de 25 vacinas, incluindo 9 das 14 atualmente recomendadas rotineiramente para as crianças.

    "Uma pessoa fez isso!", disse o médico Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, que foi amigo de Hilleman por muitos anos. "Realmente incrível."

    Após se doutorar em microbiologia pela Universidade de Chicago, Hilleman passou a maior parte da sua carreira na Merck, um dos maiores laboratórios farmacêuticos do mundo. Todos reconheciam o talento dele para descobrir e aperfeiçoar vacinas, conciliando, segundo Fauci, "excelente conhecimento científico" e "uma personalidade incrivelmente prática para fazer as coisas".

    As vacinas induzem o sistema imunológico a resistir a uma doença sem produzir seus sintomas. Produzi-las tinha tanto de arte quanto de ciência.

    "Não é que houvesse uma fórmula para isso", disse o pediatra Paul Offit, da Filadélfia, que desenvolve vacinas e em 2007 lançou "Vaccinated" (Vacinado), uma biografia de Hilleman.

    Em 1963, autoridades dos EUA concederam a primeira licença para uma vacina contra o sarampo. O trabalho inicial havia sido feito em grande parte no Hospital Infantil de Boston, mas, quando Hilleman começou a trabalhar com ela, a vacina ainda costumava causar febres e urticárias.

    Hilleman e o pediatra Joseph Stokes conceberam uma forma de minimizar os efeitos colaterais. Era o começo do fim da doença nos EUA. Nos quatro anos seguintes, Hilleman se pôs a refinar a vacina e acabou por produzir a cepa ainda em uso.

    Outro fato crucial aconteceu em 1963: uma epidemia de rubéola começou na Europa e rapidamente varreu o mundo. Nos EUA, o vírus causou a morte de cerca de 11 mil recém-nascidos. Outros 20 mil sofreram defeitos congênitos.

    Hilleman já estava testando sua própria vacina quando a epidemia terminou, em 1965. Mas ele concordou em trabalhar com uma vacina que estava sendo desenvolvida por autoridades reguladoras federais. Em 1969, ele já a havia refinado a ponto de obter aprovação governamental e evitar outra epidemia de rubéola. Finalmente, em 1971, ele juntou as suas vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola, substituindo seis injeções por apenas duas.

    Em 1998, a respeitada revista médica britânica "The Lancet" publicou um artigo alegando que a vacina tríplice viral havia causado uma epidemia de autismo.

    Múltiplos estudos independentes acabariam demonstrando que não há vinculação entre a vacina tríplice e o autismo, e o artigo original foi anulado.

    Jeryl Lynn Hilleman, hoje consultora financeira de start-ups de biotecnologia no Vale do Silício, disse que seu pai se guiou "pela necessidade de ser útil -útil às pessoas e útil à humanidade". "Tudo o que eu fiz", acrescentou ela, "foi ficar doente na hora certa, com o vírus certo e com o pai certo".

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