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    Uso de tranquilizante pode elevar risco de alzheimer

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    01/10/2014 02h00

    O uso prolongado e indiscriminado de ansiolíticos e tranquilizantes pode aumentar o risco de o idoso desenvolver a doença de Alzheimer, mostra estudo publicado no "British Medical Journal".

    Utilizados para tratar sintomas como ansiedade e insônia, os benzodiazepínicos (como Rivotril, Frontal e Lexotam) foram associados a um risco até 51% maior de desenvolvimento da demência.

    A venda dessa classe de calmantes tem aumentado no Brasil, na contramão do que acontece em países como Inglaterra e Alemanha, onde o comércio tem caído.

    A pesquisa foi feita por um grupo de cientistas canadenses e franceses usando dados do sistema de saúde de Québec (Canadá).

    Foram comparados 1.796 casos de alzheimer em pessoas acima de 66 anos com 7.184 idosos saudáveis (da mesma faixa etária) por um período de seis anos antes do diagnóstico da doença.

    Os resultados revelaram que quanto maior o tempo de uso do remédio, maior foi o risco da demência. Acima de 180 dias, por exemplo, houve o dobro de chances.

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

    Na última década, várias pesquisas apontaram para essa associação, mas havia dúvidas se os medicamentos já não eram prescritos a pessoas com sinais da doença.

    Segundo editorial do "BMJ", o atual estudo traz dados mais convincentes porque, entre outras coisas, usou um grupo-controle e ajustou as variáveis, como sintomas de ansiedade e agitação.

    Ainda assim, não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito. "Os achados reforçam antigas suspeitas, mas é difícil provar com certeza absoluta que a medicação cause a neurodegeneração", diz Sophie Billioti de Gage, autora principal.

    Ela ressalta, no entanto, que os médicos precisam pesar muito bem os benefícios e riscos ao indicar a medicação a um paciente idoso.

    Segundo o psiquiatra Mário Eduardo Costa Pereira, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), há idosos em que a medicação se tornou "companheira de vida". "São usadas por dez, 20 anos. Devem ser evitadas, mas, quando indispensáveis, que seja por curto período [30 dias, no máximo] e em baixas doses."

    O geriatra Rômulo Meira, professor da Universidade Federal da Bahia, afirma que muitos pacientes deprimidos estão sendo tratados, erroneamente, com os benzodiazepínicos. "São indicados de forma abusiva e intempestiva. É uma panaceia."

    Além do risco de alzheimer, há outras razões mais robustas para que idosos evitem os benzodiazepínicos. Em 2012, a Sociedade Americana de Geriatria os colocou na lista de substâncias inapropriadas para tratar sintomas de insônia e agitação.

    "Entre os efeitos colaterais estão falhas de memória, confusão mental e instabilidade postural. Isso pode levar a quedas e fraturas", explica Meira, também membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
    Segundo ele, é muito comum os idosos se queixarem de insônia, quando, na verdade, têm dificuldade de dormir à noite porque costumam cochilar durante o dia. "Às vezes, uma simples higiene do sono já resolve."

    OUTRO LADO

    A Roche, fabricante do Rivotril, que lidera a venda entre os benzodiazepínicos, informou que não comentaria o estudo porque ele trata da classe terapêutica, não do Rivotril em específico.

    Já a Pfizer, fabricante do Frontal, reforça que pacientes idosos são mais sensíveis aos benzodiazepínicos e que, nesses casos, é recomendado seguir a dose eficaz mais baixa pelo menor período de tempo, conforme consta na bula do medicamento.

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