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    Maioria das mulheres tem problema sexual pós-câncer

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    26/10/2014 01h40

    Raquel Cunha/Folhapress
    Valéria Baraccat Gyy, 54, fundadora de ONG, e Elisangela Carvalho, 41, que retirou a mama em 2013
    Valéria Baraccat Gyy, 54, fundadora de ONG, e Elisangela Carvalho, 41, que retirou a mama em 2013

    Primeiro veio o câncer, o medo da morte. Depois, a perda da mama, a químio e a radioterapia. Por fim, a falta de desejo e a rejeição do marido.

    O enredo, comum a muitas mulheres que enfrentaram o câncer da mama, foi vivido pela bancária aposentada Eva Batista, 62, há seis anos, quando descobriu o tumor.

    "Depois do tratamento, meu marido começou a me evitar. Eu o procurava, mas ele me rejeitava. O tempo foi passando e eu parei de insistir. Não sinto mais falta [de sexo]. O importante é estar viva", diz Eva, mãe de dois filhos já adultos.

    Problemas relacionados à sexualidade afetam entre 60% a 70% das mulheres após tratamentos de câncer de mama, mostram cinco estudos publicados nos últimos dois anos no periódico "Journal of Sexual Medicine".

    Um pesquisa com 216 mulheres feita pelo Hospital de Câncer de Barretos (SP), em parceria com o centro MD Anderson, do Texas, chegou a resultado parecido: 63% das mulheres, com idade média de 50 anos, relatam disfunções sexuais após o câncer.

    As queixas incluem a falta de desejo, de lubrificação vaginal e de orgasmo. Na população feminina adulta em geral, a taxa de disfunção sexual gira em torno de 40%.

    "Nas consultas de rotina, menos de 5% das pacientes se queixam de problemas sexuais. Ficam acanhadas. O médico precisa perguntar. Espontaneamente, elas não falam", diz o oncologista Carlos Paiva, um dos autores do estudo em Barretos.

    Outra pesquisa em fase de conclusão, conduzida pela mastologista Maira Caleffi, da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), aponta que em 82% do tempo de consulta o médico fala de efeitos do tratamento. "Não há tempo para questões emocionais e muito menos para as sexuais."

    Para ela, isso só é possível em instituições com equipes multidisciplinares, que envolvam psicólogas e fisioterapeutas, por exemplo.

    MENOPAUSA PRECOCE

    Parte dos problemas fisiológicos, como a secura vaginal, é atribuída à quimioterapia ou a remédios que bloqueiam a produção de estrógeno, causando uma menopausa temporária.

    "Resseca mesmo. A relação sexual torna-se dolorosa para a mulher e para o parceiro", afirma a psicóloga Valéria Baraccat Gyy, que já enfrentou o câncer de mama e mantém a ONG Casa da Mulher, que oferece suporte físico e emocional às mulheres com a doença.

    Ela orienta desde como se maquiar e usar lenços na cabeça durante a quimioterapia até a melhor forma de colocar o lubrificante antes das relações sexuais.

    Para o oncologista José Luiz Bevilacqua, diretor do departamento de mastologista do A.C. Camargo Cancer Center, é também papel do médico orientar pacientes sobre temas sexuais. "O lubrificante, por exemplo, não pode ter [hormônio] estrógeno."

    Segundo ele, a mulher deve ser informada ainda sobre outros aspectos importantes da saúde sexual. "Se ficar muito tempo sem [sexo], a mucosa da vagina atrofia."

    Segundo Valéria, sexo é um tema recorrente nas reuniões com mulheres que passaram por cirurgias na mama. "Quase todas dizem que usam camisetas ou top de ginástica [na hora do sexo], e só transam no escuro."

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