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    Millennials são a geração com mais inativos sexualmente, diz estudo

    PHILLIPPE WATANABE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    09/08/2016 02h00

    Fernando Mola/Folhapress
    Estilo de vida da geração tem grande peso na inatividade sexual
    Estilo de vida da geração tem grande peso na inatividade sexual

    Quem gosta de sexo é adolescente, adulto gosta mesmo é de ir em loja de material de construção e decoração, diz um famoso meme da internet. Pois uma nova pesquisa acaba de respaldar a brincadeira que aponta que ser adulto hoje não está tão ligado à atividade sexual.

    Hoje, em comparação com as gerações passadas, há mais pessoas inativas sexualmente na casa dos 20 anos, afirma o estudo publicado na semana passada na revista científica "Archives of Sexual Behavior". Os pesquisadores usaram dados do GSS (General Social Survey), uma pesquisa sociológica conduzida nos EUA desde 1972.

    Foram analisadas as taxas de inatividade sexual entre jovens adultos, aqueles que estão entre 20 e 24 anos, de diferentes gerações. Nessa faixa etária, mais pessoas nascidas na década 60 faziam sexo quando comparadas aos chamados millennials, nascidos depois dos anos 1980.

    Outra coisa que chama a atenção é que a geração de 90 é a que possui mais jovens adultos que não fizeram sexo após os 18 anos (15%). A porcentagem cresceu de modo estável a partir dos nascidos em 60, conhecidos por geração X, até chegar a esse valor. Entre eles, só 6% não haviam tido relações sexuais após completar 18 anos.

    O crescimento da porcentagem de jovens sexualmente inativos foi mais significativo em dois grupos: pessoas sem ensino superior –de 1,7% para 4,1%– e mulheres –de 5% para 16%.

    SEXOS

    Várias são as explicações para mais jovens não fazerem sexo. Para começar, as próprias definições e formas de sexo podem variar entre as gerações e afetar os resultados, segundo os autores. Isso quer dizer que as pesquisas relativas ao tema precisam ser claras sobre o que consideram como "sexo", porque pode ser que a geração X coloque vários tipos de atividade sexual sob o guarda-chuva "sexo".

    O estudante de publicidade Bento (nome fictício), 23, por exemplo, afirma que isso pode parecer errado, mas ele não considera sexo oral como sexo. "Só é sexo se tiver penetração", afirma.

    Outra hipótese é que os millennials estão justamente preferindo práticas como sexo oral em vez da penetração.

    Mas, para sexólogos, o estilo de vida dos millennials tem um grande peso sobre esse resultado. "A modernidade, como um todo, é a causadora disso", afirma a educadora sexual Débora Pádua.

    Eles se casam mais tarde, o que pode ser um ponto relevante no aumento de jovens inativos sexualmente. Ao contrário do que normalmente se pensa, pessoas em relacionamentos costumam fazer mais sexo do que as solteiras, segundo especialistas.

    "Essa geração quer estabilidade financeira, estudar fora. Tem coisas muito mais interessantes do que se comprometer com alguém", afirma Pádua.

    O aumento significativo de mulheres que não fazem sexo no começo da vida adulta também pode ser explicado pela questão do casamento. Com conquistas nos campos sociais e no mercado de trabalho, a vida da população feminina hoje vai muito além de formar uma relação estável e ter filhos.

    Além disso, os millennials estão saindo de casa com idade mais avançada, segundo um estudo de 2015 do Pew Research Center, instituto norte-americano que conduz pesquisas demográficas.

    Isso atrapalha as ficadas ocasionais – a casa dos pais nem sempre é o melhor lugar para que elas aconteçam. "Isso dificulta muito. Eu não levo ninguém para casa", afirma a estudante de direito Maruska (nome fictício), 25.

    Como se tudo isso não bastasse, a tecnologia que poderia facilitar a vida de quem procura uma ficada casual muitas vezes tem o efeito contrário. O aspecto físico ganha muita relevância nesses espaços e pode dificultar o contato entre as pessoas, segundo o estudo.

    "Uma pessoa com quem eu saí parecia não fazer a mínima questão de interagir sem o celular na mão, apesar de eu ter me esforçado. Enfiei a cara no celular até conseguir sumir da mesa do bar", conta Bento.

    O universitário admite que apps para encontros casuais são um meio um tanto preguiçoso para conhecer gente nova. "É muito mais fácil conversar de pijama do que me arrumar e ir pra balada".

    Segundo a sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da USP, a habilidade de sedução é uma das características que só pode ser desenvolvida cara a cara e a falta de prática pode causar problemas e alterar os perfis dos relacionamentos afetivos.

    Para ela, hoje se vive uma revolução nas relações. "Pessoas vivendo a individualidade mais intensamente, até no sexo, e as novas formas de viver a sexualidade são parte do processo", diz. Em meio a isso, Abdo garante: "O interesse pelo sexo não diminuiu".

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